20 abril 2011

Pitoresco...ou talvez não

Apesar dos cabelos brancos, da falta de cabelo, das rugas e de um ou outro pormenor, as pessoas que por aqui vejo, são as mesmas.
Há a geração em que todas as mulheres têm o cabelo da mesma cor e com o mesmo corte e em que os homens exibem todos a sua maior ou menor protuberância abdominal (motivada por muito petisco e minis bebidas no encosto do balcão).
Há a geração dos mais velhos, em que as mulheres, religiosamente, bebem o seu café (café não: descafeinado, garoto ou bica cheia) todas as manhãs no mesmo café de sempre e em que os homens bebem o seu café sempre acompanhado do dedal de aguardente e que depois passam o resto do dia encostados às mesmas paredes e cantos de outros tempos (arrisco a dizer que alguns cantos até estarão mais polidos à conta de tantas geraçōes de encosto), tal e qual lagartos ao sol.
Os mais idosos que estes, a maioria vestidos de negro, mantêm-se fiéis à sua cartada e aos seus bancos de jardim, escolhidos em função da hora do dia, para não levarem com o sol; quanto às mulheres, essas...não se vêem, a não ser na farmácia ou a ir buscar água à fonte.
Os mais novos, esses, rapazes e raparigas, seguem em demasia o caminho do morcego, dormem o dia todo e vêem-se ao fim da tarde, momento em que começam a romaria das esplanadas e bares, bebendo e fumando em demasia.
Numa terra em que socializar implica sempre ter um copo à frente, o que, para além disto, têm em comum todas estas pessoas?
O que de comum há em todas as pequenas vilas do nosso país...todos falam de todos e todos têm algo a dizer sobre os actos dos restantes.
Todos têm em comum o repetir dos hábitos das geraçōes anteriores, pois todos mudam o seu pouso à medida que avançam na idade (como quem progride no status local) e todos apresentam os mesmos gestos e actos que criticavam nos seus antecessores.
Obviamente há quem se alheie de tudo isto, os incompreendidos pelos restantes, aqueles que saíram da terra e que quando voltam, na maioria, são considerados de cheios de mania ou snobes (também os há) e os que ficaram, mas que se abstraem de todos estes hábitos, que estão no seu canto, que socializam esporadicamente, habitualmente com os iguais a si.
Com o olhar de quem apenas por cá passa entre uma a três vezes por ano, apercebo-me do patamar em que cada um se encontra pelos hábitos que manifestam e pelos locais que frequentam.
Não me mantenho indiferente e muito menos, superior a tudo isto, principalmente porque ainda tenho amigos cá, curiosamente, sendo a maioria pertencente ao grupo dos que se abstraem.
Não tenho falsas moralidades, poque sei que os hábitos e rotinas são inevitáveis ao ser humano, especialmente nos meios mais pequenos e também porque, em tempos, já sucumbi a eles.
Mas, infelizmente, cada vez mais, considero que esta terra é absolutamente bela e pitoresca...mas não para viver, apenas para passar férias ou como turista.
Como uma amiga minha costuma dizer: "Esta vila é linda! Fica muito bem num postal!"

2 comentários:

um quarto para duas disse...

Bem, podia assinar este texto por baixo. Descreves na perfeição o que se passa na minha aldeia também.
Desde que fui estudar para Lisboa que noto mais as diferenças de um meio para o outro. Acho engraçado, gosto destes contrastes.
Mas, sinceramente, já não me vejo a viver cá. Gosto de cá vir, mas já não me identifico com este tipo de vida, com estes hábitos e com estas tradições tão vincadas nas pessoas.
Também não me acho superior e respeito toda a gente, como é óbvio. Apenas sinto que já não me encaixo aqui. Mas provavelmente nunca me encaixei.

Beijinhos

Gaivota disse...

E nem um beijinho para mim que estou cheia de saudades tuas...