Dvorak - Symphony No. 9 "From the New World" - II (part 1)
Foi aqui que tantas vezes esfolei os joelhos (digamos que sempre fui uma grande tropeçona): a saltar dos baloiços, a andar de bicicleta, a jogar à carica, a jogar aos polícias e ladrões, enfim, em correrias que arreliavam os velhotes que só queriam jogas às damas e à sueca!
Foi aqui que passei a minha infância e juventude, nestes bancos de jardim. A fase em que só nos sentamos com o rabo nas costas do banco e os pés em cima do banco, numa de "a malta tem estilo". A fase em que os nossos problemas eram todos extremamente profundos e sempre existênciais. A fase em que os "amigos" eram tudo e em que só íamos para casa mesmo no limite ou um pouco depois da hora marcada.
Foi aqui, nestes bancos, que comecei a sentir-me bem sozinha (porque não tinha pachorra para muitas das parvoíces da malta) onde me deitei a pensar em mil e uma coisas, a ouvir as andorinhas na primavera e as folhas a abanar nas árvores no outono. Onde li pela primeira vez Kundera e Garcia Márquez. Onde ouvia nas colunas de som do Jardim, os programas da Antena 1 e da Antena 2, sim, a música clássica (Dvorak, Mahler,Debussy,...) a música portuguesa (Trovante, Sétima Legião, GNR, Rão Kyao, Júlio Pereira...) e um pouco do que se fazia lá fora (Pink Floyd, Dire Straits, Police, Genesis...).
Foi aqui, nestes bancos, que muito conversei, com amigas e mais que amigas (sim, hoje consigo perceber que algumas as senti como mais que amigas), que muitas anedotas foram contadas, que descansei com a minha avó antes dos últimos passos até à sua casa, que refrescámos nas longas e quentes noites de verão e que esperámos que se fizessem horas para irmos para o cinema.
Ainda hoje, é aqui que, quando vou à terrinha, paro e olho para a vila e para as pessoas e lembro o passado.
Ainda hoje, é aqui que me sento com a minha mãe, para esta retomar forças para fazer o resto do percurso até casa.
Ainda hoje, é aqui (infelizmente menos vezes do que as que desejaria), que descanso com os sobrinhos, depois das correrias no jardim, dos saltos dos baloiços e depois de beberem água na fonte.
Ainda hoje, é aqui que, os velhotes (outros, não os mesmos), jogam a cartada e as damas e que a maltinha, cheia de estilo, com os seus fones e a teclar, se sentam como eu me sentava quando tinha a sua idade.
Se estes bancos de jardim falassem certamente muito diriam sobre as gentes desta terra.
2 comentários:
Sabes maninha, gosto mesmo muito de ti. 'Tá dito.
Porra pá,
deixaste-me com a lagriminha!
Também gosto muito de...mim!
Brincadeirinha, tu sabes tu sabes!
Gosto muito de ti!
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