18 setembro 2013

Afortunada?

E já lá vão 15 anos na profissão que abracei, 14 dos quais passados aqui nas ilhas...
Este início de ano tem-me deixado com uma sensação como quando temos uma dor e procuramos não ligar-lhe para ver se passa...mas não passa...
Optei por vir para as ilhas porque na mainland só fui capaz de me sujeitar dois anos ao dissabor de percorrer o país todo, distrito a distrito para concorrer (sim ainda sou do tempo que era preciso calcorrear o país de lés a lés, com filas intermináveis de pessoas a tentar o mesmo).
E assim o fiz, num ato um pouco impulsivo lá peguei na trouxa e a 30 de setembro de 1998 chegava ao lugar pelo qual me apaixonei e onde me apaixonei (mas isso é outra história).
Nesse ano e nos seguintes, alguns amigos também optaram pelo mesmo, mas muitos ficaram lá, uns mudaram de profissão, muitos mudaram de ciclo de ensino e quase todos ficaram bem longe de casa, chegando a fazer centenas de km por dia.
Os anos passaram e alguns dos de cá voltaram para lá e eu e poucos mais ficámos, uns porque se apaixonaram pelas ilhas, outros por saberem que mesmo indo iriam ficar longe de casa e certamente longe dos seus/suas companheiros(as) e longe por longe, mais vale aqui! 
Mas também por receio do que podia lá acontecer...sim, o que se veio a verificar e realmente está a acontecer!
Os da minha geração e média profissional, são aqueles que neste momento estão com a corda no pescoço, em risco de ficarem no desemprego!
É claro que, por enquanto, estão melhor do que os milhares que já ficaram sem emprego, mas até quando? 
A angústia, a incerteza...como querem "eles" que pessoas nesta situação sintam motivação no trabalho? 
Ah e tal, dirão "eles": -"Deviam dar-se por satisfeitos de ter emprego."
Sim, tendo em conta tudo o que se passa no país, talvez devessem sentir-se gratos, mas tal não é condição suficiente para sentirem motivação pois, por inúmeros fatores, cada vez mais as condições de trabalho são insuficientes!
Tudo isto me provoca uma imensa angústia, por lamentar o que está a acontecer com muitos colegas e por pensar que eu poderia estar na mesma situação!
Mas também porque faz-me questionar sobre que legitimidade tenho para me mostrar insatisfeita com as minhas condições de trabalho, quando há tanta gente bem pior que eu?
E refletindo sobre tudo isto, parece-me que por aqui estamos todos menos reivindicativos, mais apagados, porque no fundo, tendo em conta a situação atual, quase que sentimos a obrigação de nos considerarmos afortunados!


1 comentário:

Carla |O| disse...

Claro que tens legitimidade para te sentir insatisfeita. O facto de se ser "afortunado" - poucos o são neste momento no matter as circunstâncias - não podem inibir-te de fazer as tuas reclamações. Não podemos começar a pensar assim - e digo-me isso a mim também - porque o medo instala-se facilmente e depois não há quem o arranque.