14 agosto 2013

Por entre extremos

De um lado a saudade imensa, 
a vontade de estar com quem, em todas as vezes que lá vou se nota mais o passar do tempo, os pais.
A vontade de ir beber o cafezinho da manhã com a mãe, apanhar a pouca aragem que se sente por essas horas, auxiliar nos afazeres, abraçar, mimar e simplesmente estar,
a vontade de seguir atrás do pai pelas poucas sombras que o casario proporciona ao início da tarde, para com ele o cafezinho tomar após o almoço, para lhe fazer a vontade de me "mostrar" às gentes da terra

Por outro o sentir que sou um estorvo,
que pouco após a chegada, após o "carregamento da bateria" das saudades que de mim tinham, que após o meu próprio "matar" de saudades, estou a tirá-los da sua rotina diária,
que o modificar do habitual cria instabilidade.

Queria conseguir evitar este sentir que não sei se sou eu que o origino,
queria conseguir relaxar,
queria encontrar o verdadeiro diálogo onde ele nunca existiu.

Chego sempre com a vontade de que tudo esteja melhor, que a amargura ceda lugar ao entendimento, que as dores físicas e psicológicas sejam menores e que a harmonia seja constante e não esporádica.
Parto sempre com a frustração de quem nada pode fazer, pois ambos, cada um à sua maneira, carregam um fardo que os filhos, por muito que quisessem, não conseguem dissipar, apenas amenizar.

Queria apenas que fossem verdadeiramente felizes.


 Daughter - Drift

2 comentários:

Carla |O| disse...

Entendo muito bem o que dizes e o que sentes. É um sentimento aflitivo esse de sabermos que não estamos com eles com o tempo e a qualidade devida. Mas eles sabem que fazemos o que podemos e que não fazemos mais porque não está ao nosso alcance. A dor e a culpa existe, grosso modo, mais na nossa cabeça do que na deles. Neles existe a saudade e o cuidado porque estejamos bem.

Quanto ao resto... sei, por experiência própria, que para bem da nossa sanidade mental e da nossa integridade emocional, tem de haver um momento em que nos libertamos do peso de nos sentirmos responsáveis e/ou incapazes sobre tudo o que lhes diz respeito.

Não é algo que se consiga fazer de forma definitiva mas que precisamos fazer de vez em quando. Para respirarmos. Para destilarmos a nossa própria amargura. E para darmos valor ao que somos, ao que temos e aos que estão connosco.

Somos apenas gente que faz o melhor que pode com aquilo que sabe.

Bom regresso! :)

cegonhagarajau disse...

Carla |O|,
obrigada pelas palavras.
Certamente saberás como eu que libertarmo-nos é impossível, a não ser que nos tornasse-mos insensíveis!
Mas não consigo deixar de pensar, será que faço mesmo o que posso?
Ou estou simplesmente a tentar compensar a ausência?
Se não fosse o saber que os irmãos sentem o mesmo, diria que o mal estava unicamente em mim...
Abraço para vocês